Um
estado de
alma
Sou
feita de pequenas revoltas, não posso escondê-lo. Chamo-lhe pequenas porque
essas mesmas manchas negras já foram crateras gigantes na resolução de mim
própria. Hoje não é assim, a maturidade encerra em si uma calma particular que
atenua as erupções. Atenua mas não as extingue, nem eu quero que extinga porque
no dia em que os meus tumultos desaparecerem não será a mesma pessoa a existir.
Já não serei eu. No entanto aprendi que as feridas e injustiças da tua vida não
são desculpa para te tornares uma pessoa amarga, revoltada ou insegura, são
lições que te devem tornar num ser mais desperto e consequentemente mais forte.
Forte em amor, compreensão, vontade de viver, capacidade de superar e de deixar
ir sem fazer birra.
À
medida que avançamos no tempo e o vamos esgotando, entram, saem, passam ou
permanecem pessoas na nossa vida. Essas pessoas darão um contributo importante
na felicidade ou infelicidade que virás a sentir. Não te vou mentir…há pessoas
muito cruéis. As piores são as dissimuladas, as que têm uma necessidade de
inferiorizar alguém para se sentirem gente, aquele tipo de pessoas que não
estão bem resolvidas consigo próprias mas acham que estão, aquele tipo de
pessoas sem personalidade que precisam acabar com o teu dia só para alimentar o
seu ego.
Vivemos
num tempo em que pessoas competem sabe-se lá porquê. Todos queremos ser os
melhores, os mais ricos e os mais lindos. Esquecemos-nos que a beleza e a
grandeza do ser humano, não se rege apenas por esses parâmetros e que reside
exactamente na nossa singularidade e simplicidade. Ninguém consegue ser
carismático utilizando o caminho de outra pessoa, ninguém é uma boa pessoa se
não consegue colocar para funcionar uma capacidade suprema: a humildade. Só se
consegue ser feliz quando se vive em paz com o que se é, por isso é que é tão
importante aceitares-te tal como és. Não tem problema nenhum seres apenas tu.
Que raio de ideia é que as pessoas têm na cabeça que para se ser bom tem de ser
melhor que alguém? Para se ser bom tem de se ser acima de tudo genuíno. É a
autenticidade que cativa. O problema das pessoas de hoje é que vivem
constantemente preocupadas com o que outro tem, com o que o outro faz. Tentam
imitar padrões de vida sem perceber se isso é o que realmente o vai realizar,
obviamente nem sempre corre bem.
Vivemos
num tempo em que as pessoas dão alguma coisa já à espera de receber algo em
troca, em que se fazem bondades para se mostrar aos outros que se é solidário e
não porque se é autênticamente generoso. Vivemos num tempo em que as pessoas
vivem de aparências. Engraçado como existem tantas pessoas que têm a vida
perfeita, o casamento perfeito, a casa perfeita mas na realidade só encontram a
satisfação fora disso, engraçado como o membro do casal que descobre ser traído
desvaloriza automaticamente a sua própria culpa e a do parceiro que lhe deve
respeito e a põe totalmente num terceiro elemento. Porque o importante é manter
a fachada, a qualquer custo. Porque isso é bastante mais fácil do que admitir
que estás com alguém que não te respeita e dificilmente de ama.
Vivemos
num tempo onde as pessoas têm o órgão sexual no cérebro. Nada contra sexo… Até
gosto e obviamente que a vida sexual é uma parte importante da vida de qualquer
pessoa. Mas há mesmo necessidade de fazer disso a única coisa interessante ao
cimo da terra? Uns livros e filmes de submissão sexual despertam assim tanto
alvoroço porquê? Teremos uma sociedade mal fodida? Às vezes parece que sim… é
que ver pornografia é feio, fica mal dizer, agora filmes da moda que invocam a
pura satisfação masculina já parece muito bem.
Vivemos
num tempo de egoísmo em que a maior parte das pessoas não consegue tirar os
olhos do seu próprio umbigo e perceber que ninguém é mais especial que ninguém.
Os homens inchados de orgulhos estúpidos porque enganam mulheres ou pensam que
enganam, mulheres cheias de si porque são perfeitas ou acham que são.
Amor-próprio dependente de aprovação, manias utópicas de que controlam tudo.
Homens que se acham engraçados e não têm piada nenhuma, mulheres profundamente
carentes que não sabem viver consigo próprias e que se por acaso há um dia em
que não são notadas o mundo vem a baixo, mulheres que não têm a atenção que
gostariam em casa e que por isso a procuram em tudo o que mexe. Mas atenção são
estas as mulheres sérias da sociedade porque as outras, as que não precisam de
homem para se sentir gente, são as putas, as cabras com manias de independência
que só existem para virar a cabeça de homens, (muito) “honrados”! Tem muita
lógica!
Não,
eu não vim de Marte, sou de cá e também tenho MUITOS defeitos. Porém e sem
falsas modéstia, aprendi que nada me pertence, nada é garantido. Já fui
trocada por outra mulher e não virei uma deficiente de nariz empinado por isso,
não saí por aí desesperada à procura de alguém porque estar sozinha é mau. Não,
estar sozinha talvez seja uma opção válida num mundo de loucos em que são muito
poucos os que tem capacidade de estar com alguém. Não imito a maneira de ser de
ninguém porque na realidade amo a minha. Amo-me da cabeça aos pés, de dentro
para fora e aceito que sou totalmente imperfeita. Chamem-me retardada que eu
não me importo, mas não acho normal a maneira como se entrega o corpo às
primeiras necessidades físicas. Acredito que as pessoas só podem tocar no teu
corpo se antes conseguirem tocar na tua alma. Acreditem é possível viver sem
sexo, não morremos. Não acho normal que as pessoas não consigam estender a mão
de vez em quando sem qualquer intenção, “Eu ajudo-te porque tu precisas e só isso”,
custa assim tanto? É assim tão difícil praticar a amizade desinteressada, o
apoio e às vezes fazer sacrifícios em prol de alguém?
Tentem
fazer melhor, ser melhor, encontrar um equilíbrio. Encontrar uma paz que vos
permita fazer o bem. Sozinho ou acompanhado, rico ou pobre, bonito ou menos
bonito, mais realizado ou nem tanto, se estão mal mudem-se mas não façam por
deixar ninguém para trás, a vida não é uma competição e tu não vales assim
tanto, nem eu, nem ninguém. Somos todos iguais, feitos desta matéria falível e
imperfeita que pode ser aperfeiçoada se tu quiseres. Rebentem com o ego,
deixem esse pedestal e venham ver o mundo real, aproximem-se de quem precisa,
conquistem a humildade. Sintam o prazer de ser único e simples. Não interessa o
que a sociedade quer ou exige de ti… a vida é tua e tu tens de a viver como
queres. Digam não às regras dos perfeitinhos quem não partem um prato e no
final de contas são capazes das maiores atrocidades. Ignorem as pessoas que se
acham um máximo e no fundo são apenas ridículas, ignorem o que não vale a pena.
Amem verdadeiramente as pessoas, entreguem-se de verdade a qualquer coisa, dá o
teu melhor. É preciso dar o melhor, é preciso mais amor genuíno, é preciso
praticar a positividade. A vida retribui tudo o que tu lhe dás! Acredita.
Para
quê este discurso todo poético? Somos todos uns heróis. Heróis de coisa
nenhuma. Heróis da ilusão de ser felizes. Vivemos um tempo trocado onde muitos
daqueles que se fazem valentes são na realidade os maiores cobardes da história.
O maior problema disso é que a continuarmos o percurso dessa forma, o vilão do
filme… não morre no Fim.
IR 2015