Às vezes tenho saudades de ser
eu. Apenas isso. Tirar a capa de menina bem comportada, bem-sucedida e
excessivamente equilibrada. Chega de protótipos de vida estável que as pessoas
transmitem nas redes sociais e que na maior parte das vezes são uma autêntica fantochada.
Não sou um fantoche, sou de carne e osso e sim, faço merda… a toda a hora.
Parabéns
perfeitinhos! Parece que os deuses da criação se enganaram e deixaram o "requinte" apenas em alguns! Não posso fazer um brinde no texto, mas imaginemos que
estamos juntos num lugar qualquer… isto é para vocês, seres sem mestria de embelezar
a vida.
A nós que continuamos à procura
do caminho, a nós que delineamos a estratégia na nossa cabeça mas que
inevitavelmente ela nos acaba por sair furada. A todos aqueles que têm a
humildade de admitir que falharam, aqueles que sabem pedir desculpa e que sabem
acima de tudo desculparem-se a si próprios.
A nós que não desistimos, que
sabemos saborear cada pequena conquista da vida, porque elas nunca nos caem do céu.
Lutamos e por vezes fracassamos, mas caímos sempre de pé. Nada nos derruba
porque nós temos o mais importante, tranquilidade na alma e a força de um
furacão.
Aos nossos erros gigantes de quem
faz um caminho muitas vezes na escuridão, no vazio, no nada. É fácil ser bom e
fazer tudo bem na bonança, difícil é fazer o melhor possível quando se está no
caos.
Às nossas imperfeições, aos
nossos recomeços, às nossas figuras ridículas que na realidade divertem sempre alguém.
Aos nossos corpos por vezes nada Danone mas que não deixam de ser a nossa casa
e que devem ser respeitados independentemente da nossas manias e dos conceitos
de beleza das pessoas.
À nossa coragem para viver. Tropeçando,
errando, acreditando mesmo quando não há mais ninguém que acredite em nada.
À nossa crença, essa que nos faz
levantar todos os dias com um sorriso, mesmo quando tememos o futuro, mesmo
quando sabemos que o dinheiro muito provavelmente não chegará até ao fim do
mês, mesmo quando sabemos que os nossos planos vão ser adiados mais uma vez,
mesmo quando sabemos que não temos o trabalho que mais gostaríamos de ter,
mesmo quando sabes que não tens trabalho. Sorrimos porque acreditamos que vamos
conseguir. E vamos!
À nossa simplicidade, feliz de
quem não precisa de muito para ser autênticamente feliz. Sozinhos ou acompanhados,
sem bons empregos, sem bons ordenados, sem boas casas, sem carro, sem muito
luxo, sem férias nas grandes capitais, de salto alto ou de havaianas. A nós que
somos uns guerreiros nas lutas modernas. A nós que ninguém tira a capacidade de
imaginar e sonhar um amanhã melhor.
A nós que fazemos impossíveis e
movemos o mundo com atitude e não com a aparência. A nós humanos, reais, falíveis
e ainda assim radiantes.