Escrito no ano de 2007 ( na altura ainda havia jardins )
<3
Nem sempre somos capazes de transmitir certeza nas nossas
escolhas, nem sempre a vida que temos é a que gostávamos de ter. Um dia acordo,
e percebo, que sou um nada, um muito pouco na vida dos que me rodeiam, sou
pouco e sou nada.
Não sou perfeita, como alguém um dia imaginou, não sou assim tão
eficaz, nem tenho tantas qualidades quantas, alguém um dia me fez acreditar que
tinha. Sou carne e osso como qualquer um de vocês. Também sou orgulho, sou
maldade, também sou inútil e nem sempre presto.
Nunca pedi mais do que o permitido, e quase sempre, até esse
pouco, é negado. Foge-me á compreensão, exalta-me a ignorância, perde-se a
minha esperança, morrem os meus sonhos, sobrevive esta angústia. Viver para
surpreender não é assim tão fácil, e viver sem tomar atitudes, sem errar não é
aprender.
Nos jardins que tenho cá dentro, ainda voam esses pássaros,
ainda existe verde, ainda existe vida. Num mundo secreto, que ninguém pode
entrar para com o prazer normal do ser humano, danificar. Aqui entro eu, quando
o mundo cá fora anuncia a tempestade, quando as folhas caem, ou quando quase
nada bate certo. Aqui fico eu… só para sentir que ainda consigo respirar. Num
mundo escuro e frio, onde cada vez mais os interesses são fugas perfeitas, para
esquecer que existem sentimentos, num mundo que de mágico tem pouco, numa vida
de desassossegos.
Nos jardins que tenho cá dentro.. Sou livre e posso ser a
mudança que gostava de ver neste mundo exterior onde sobrevivo. Sou mais do que
imaginam, sou menos do que julgam, sou isenta de opiniões, julgamentos e
futilidades. Eu aqui sou sonho, nos jardins que guardo cá dentro, não existe
muro de lamentações, nem dor, não existe juiz nem ditador. Eu aqui obedeço
apenas às regras que fiz a mim própria, não me assusto, nem grito! Falo
baixinho, para ninguém escutar, a alegria que é viver num mundo sujo, e ter
espaço, para criar um lugar mais dentro, um lugar mais puro. Ou apenas um
pequeno refúgio. Talvez a única coisa que tenho, que ninguém quer mudar, moldar
ou entrar. Talvez o único sítio onde ninguém há-de chegar, ninguém pode
destruir nem pisar. Nos jardins que guardo cá dentro… sou mais feliz...
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