Fiquei sem inspiração, quando
o perdi. Não sei se posso perder algo que nunca foi meu. Na realidade eu não
perdi o amor dele, porque nunca o tive.
Perdi o meu amor.
Perdi o olhar secreto.
Não perdemos alguém na ausência,
não perdemos pela saudade. Não perdemos alguém quando o amor dessa pessoa por nós
acaba ou não começa ou não é suficiente. Perdemos alguém quando deixamos de ter
alvo para depositar o nosso afecto.
Fiquei sem inspiração,
quando a música deixou de tocar. Não sei se posso deixar de ouvir uma música
que nunca tocou. Na realidade, eu e ele nunca ouvimos a mesma canção.
Eu inventei a letra.
Às vezes, nós queremos
tanto alguma coisa que acreditamos numa mentira, só porque ela encaixa na
perfeição na história que queremos contar.
Fiquei sem inspiração, quando
me perdi. Não tinha noção que me podia encontrar. Eu encontrei-me no amor que
tinha e lhe dava.
Eu não tenho mais para
quem dar.
Todos os outros parecem
aos meus olhos, peças de puzzle que não encaixam. Não há espaço nesses homens,
para depositar amor, não um amor com este.
Fiquei sem inspiração,
quando falhei. Eu falhei, embora ainda não saiba exactamente onde. Talvez tenha
falhado quando abri aquela porta pela primeira vez.
Eu não tenho mais portas.
Não há mais casa, em mim. O
tempo levou-me as raízes, a vontade de ficar aqui. Levou-me para longe, para o terreno
que eu não conheço.
Fiquei sem inspiração, quando
resisti. Reagi a um amor de faz de conta. Que amor era esse? Amor que não
acreditava; nunca lutou, nunca demonstrou.
Eu não o perdi..
Eu só me perdi a mim.
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