Dizem,
que o escritor é o reflexo das suas experiências, pois hoje foi o pior dia da
minha vida.
Dizem
que a desilusão dói no coração, mas eu acho que dói no corpo todo. Já sentiram
isso?
Como
se não te conseguisses movimentar, os olhos perdidos e a mente em erupção. Como
se pudesses matar e morrer ao mesmo tempo. Em que o único desejo que tens é
sair e gritar, bem alto, como te doí a merda que os outros fazem.
Dizem
por aí que as pessoas são más, outras são loucas ou cobardes. E eu sinto que
não me encaixo nisto. A minha maldade existe, mas não tem coragem para sair à
rua, a minha loucura, se calhar não é assim tão louca e minha cobardia, essa,
não acorda comigo de manhã.
É
impressão minha, ou as pessoas estão a adoptar um modo de vida, meio estranho e
estúpido, no qual ganha quem enganar, manipular ou usar mais?
Dizem
que os escritores são doidos, sim! Sinto-me verdadeiramente doida e doente nesta
sociedade onde nunca se sabe quem é quem. Estou doida e tonta, esta última
parte, deve ser do vinho tinto que me faz companhia, numa noite triste e
chuvosa de Abril.
Se
ter dúvidas, é normal. Fazer delas, desculpa para lixar os outros, é ter mau
carácter.
Mau
carácter… Mau carácter é vago demais. Todos nós temos tentações, a sensação
clara e quase diária que não podemos fazer determinada coisa, mas que mesmo
assim nos apetece, mais que tudo, fazê-la.
E
o mundo distingue-se nos que não fazem e nos que fazem. Quase todos acabam por
fazer. Fracos!
Fracos…
Fracos é vago demais. Fraco é aquele que sucumbe. Por mais que o mundo ande
todo ao contrário, forte é aquele que rema contra a maré. Aquele que luta até o
ultimo fôlego, aquele que resiste até ao coração deixar de bater.
Mentiras,
às vezes é preciso mentir, poupar, ocultar. Se não mentimos arranjamos
problemas, e a verdade é essa, nua e crua. Mas há mentiras e mentiras. Há
mundos ocultos e mundos ocultos!
Mentira,
termo demasiado vago. Uma arte que nem toda a gente tem, essa de enganar. Para
mim, escritora doida e tonta, arte que o esperto pensa que tem, e que só dá
certo quando o enganado é burro ou quer ser.
Burrice,
idiotice, estupidez. Coisas comuns em nós.
Eu
podia chorar por ser estúpida? Podia… mas a lágrima não corrige a estupidez, a
lágrima só lava a alma, e a minha, não está suja, está apenas vazia.
Chove-me
na janela pequena, uma cidade ainda por acordar. Um vinho que me invade e
preenche os buracos feitos por essa bala, mal lançada. Eu não merecia? Quem
merecia a bala?
Dizem
que eu sou uma escritora dramática. E eu concordo, não sei escrever feliz.
Feliz…Feliz
é vago! Talvez o mais vago conceito de todos os tempos. O que é ser feliz? Que raio
é que esta gente, meio gente, procura? Correm tanto, para chegar onde? À solidão.
Correm
para chegar a um lugar, sozinhos e vazios.
Chegamos
ao ponto, ao ponto alto da questão, queremos passar por cá e viver ou queremos
passar por cá e achar que vivemos?
Digo-te
eu, escritora não reconhecida, não paga, tonta do vinho e doida com a sociedade
que me envolve. Eu quero viver! Quero e exijo viver sem dúvidas de merda,
pessoas médias, pessoas mais ou menos, mentiras e ocultações.
E
sim, eu vivo para isso. Sou estúpida? Estupidamente recta, inusitada e doida.
Certo..
não escrevo mais a tinto.
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