- Já pensaste que nunca
existiu?
Essa peça de teatro decadente, com actores medíocres e poucos aplausos,
era a tua estúpida imaginação, só a tua estúpida mania de achar que as pessoas não podem ser assim tão más!
Não, elas podem. Podem ser piores do que tudo o
que imaginas. Mil vezes mais sujas, baixas e ordinárias do que alguma vez, te
vai passar pela cabeça.
São pessoas filhas da
puta, sem princípios, sem valores ou remorsos de quem passa por cima de qualquer
coisa para chegar onde quer ou ao que precisa.
As pessoas podem ser
assim. Eu não te disse vezes sem conta? Eu não te avisei? Como pudeste ser tão
burra, tão ingénua e tão burra!
- Eu fiz sempre o melhor
que sabia. Amei quando e quanto pude, dei o que achei que podia dar.
As
escolhas dos outros não me pertencem. A merda que essas pessoas são, também não
é uma preocupação minha. Não tirava uma virgula da história, voltava a conta-la
tal e qual assim.
Não posso envergonhar-me
de ter dado boa parte de mim, a melhor parte. Não posso culpar-me de acreditar
nas mentiras convincentes de quem não presta.
A vida é isto e sabes que
mais? Eu quero que ele seja feliz. Ele devia tentar ser… sem mais guerras,
mentiras ou ilusões.
A felicidade é certamente outra
coisa.
- Continuarás sempre a ser
essa parva romântica que a vida engana. Dá-me vontade de desistir de ti. Tu não
aprendes, não tens sede de vingança, de provocar dor nos outros como os outros
te causam a ti?
Como é possível não te revoltares
uma vez que seja?
- Isso seria perder mais
tempo. Não tenho obrigação de acertar sempre, não posso mudar pessoas, não
posso viver na angústia de me ter enganado.
Tento, tentarei até me
findar, tentarei até o encontrar.
- E até lá? Vais levar
mais quantas chapadas?
- Até lá.. sou feliz. Feliz
por não me deixar corromper pela fraqueza de um ser, pela pura maldade, pelo
mau carácter.
Feliz, apenas por não ser
igual a ele. Apenas feliz por ter matado esse monstro, dentro de mim.
E é tudo.
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