Lembro-me de olhar, para ti, meio
desconfiada. Às vezes o olhar, de algumas pessoas, é tão vago, tão cheio de
nada, que por isso mesmo, faz com que me demore na sua análise.
Mania das pessoas de quererem
desvendar tudo no início. Nós nunca vamos conhecer o fundo da alma de alguém. Às
vezes nem o nosso.
Esta é a história de um animal. Um
animal, louco. A maior parte de nós nunca passará, de desejos animais, carnais,
banais. A maior parte de nós nunca deixará de ser um louco disfarçado de exemplar.
Naquele dia, eu estava disposta a
dar de mim. Tenho passado grandes períodos a tentar dar de mim. Mas não era uma
parte minha, qualquer. Há partes de mim, que não prestam, não podem ser dadas. Não
devemos dar coisas más aos outros.
Nem sempre é assim. Mas naquele
dia foi, eu dei-te o melhor que tinha. Quando nós damos o melhor que somos,
desejamos que nos retribuam. Nem sempre é assim.
É nesse momento, que acorda o bicho.
Acho que toda a frieza, o calculismo, o mal e a desconfiança, vêm das feridas
que a vida nos vai abrindo na pele. Daquelas que não lambemos, não curamos, que
preferimos que sarem sozinhas.
Essas deixam marca, criam hábitos
de dor. Transformam-te.
E depois disso? Como é que se
volta ao início, como é que se esquece o rasgão nos afectos.
Este animal que vos escreve, não
tem respostas. Este animal que vos escreve, é demasiado complicado, ou então
ainda está a descobrir a ligação de todas estas coisas estapafúrdias, que a
vida nos vai pondo no caminho.
Este animal..que sou eu. Gosto
deste termo. Nunca me senti verdadeiramente igual aos que se dizem “não-animais”.
Na generalidade o humano racional
irrita-me.
Há muito mais mentira na boca dos
humanos, do que verdade. Há muito mais má intenção do que bondade.
Vaidade, irresponsabilidade.
Naquele dia, mais uma vez, eu
tive o combate, nas minhas entranhas. As batalhas entre a razão e a emoção são sangrentas.
Há coisas que nascem de certos
combates..
Nascem verdadeiras fortalezas, animais
mais preparados, mais temidos.
Nasce em mim, coisas que eu nunca
vi, não sabia que tinha. Nasce a paz. A vontade de viver longe dos monstros, dos animais amansados, das
falsas feras e dos amestrados.
Nasce a vontade de viver perto
dos animais selvagens… tal como eu.
Sem comentários:
Enviar um comentário