Faz hoje, tantos dias, que conto a tua
ausência, como é excêntrica a vida na sua singela aparência. Como é doloroso
perder para sempre, quem se vai e não volta mais.
Quando alguém parte, fica a dor dolorida
no peito de um homem, fica o sorriso glorioso de um filme que foi passando e
chegou ao fim.
Onde é que se sente a ausência? Sente-se no
coração, na chuva miudinha na janela, nos olhos molhados, na pele em fogo.
Na pele dele sempre escura e fria, pairava
a minha pele branca, em que nascia a esperança de mais um dia. A pele dele,
quente como as estações, tão mágica, que às vezes arrepiava, com o vento ameno
das nossas emoções.
A estranha rugosidade da pele das mãos
sábias que ela tinha, que passavam suavemente na minha cara de menina. A pele
que eu visto depois disso, não é bonita. Tenho as marcas todas nos joelhos, de
quem caiu por não saber e às vezes de quem caiu por querer.
Recordo sempre a pele macia do meu bebé,
que saudade da pele do bebé, do cheiro imaculado que o bebé trazia. Sem marcas
vorazes na casca tenra.
Recordo ainda as linhas traçadas na pele de
minha mãe e a pele suja de terra, suor e de sol que o meu pai tinha, como quem
trabalhou, mais do que podia.
Saudade da pele nua, nessa pele que era
tua. Meu amor, quantas saudades de estar na pele, dessa que é a tua verdade,
tão simples, tão crua.
Quanto desejo, afinal, de voltar a sentir
na pele velha e cansada, a presença de quem partiu, cintilando de novo, como
quem nunca se destruiu.
A cor da pele ou o aspecto que ela ganha,
de nada importa, nesta manhã de outono, aqui ao pé dos ciprestes verdes. Não
importa, quando a pele desse alguém é a única que nos toca.
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