Passei a maior parte da minha vida, a tentar ser uma pessoa
equilibrada.
Eu falhei. Ser fantástico cansa. É responsabilidade a full-time.
Sempre tive tudo controlado, reprimi essa índole indoméstica,
até muito tarde. Quando parei de o fazer, descobri-me.
Não sei se é certo ou não, se tenho um problema em ser gente
ou não. Mas eu não gosto do que vivo, não gosto do que vejo, eu não quero isto,
nem aquilo, nem o que os outros fazem.
Não gosto do que outros pensam. Os outros, os muitos
equilibrados, pensam que eu sou uma máquina avariada, dessas que se guarda como
relíquia, no sótão.
Mas eu não sou avariada, sou apenas desigualada.
Passei a maior parte da minha vida, a achar que que
precisava de ser concertada.
Pensar diferente tem muitas consequências. É discórdia permanente.
Mas talvez não seja eu a errada.
As pessoas perderam a verdade, os equilibrados de hoje vivem
num mundo de ilusões.
Já ninguém sofre, passam a frente. Já ninguém busca o sentimento.
Todos querem chegar longe, sem grande esforço.
Ninguém se preocupa com ninguém.
Os equilibrados que o mundo conhece, não passam de egocêntricos,
impostores, ladrões da exactidão.
Que a minha loucura nunca seja arrasada pelo mundo “ajuizado”
que temos.
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