Hoje é o último dia dos meus 26
anos. É estranho pensar assim, é estranho pensar num tempo que não volta
nunca mais.
Não tenho
nada contra o envelhecimento, acho que os anos passam e a maturidade traz
consigo coisas boas, uma serenidade rara até agora, uma forma menos inflamada
de ser, contudo nunca
fiz um aniversário tão sentido e consciente da fugacidade de tudo. Consciente que
a juventude nos foge.
É inevitável olhar para o tempo
que passou e não fazer perguntas. Será que fui tudo o que podia ter sido? A
velha questão que me perturba desde sempre. Será que me vou cumprir?
Analisar as coisas não as muda,
mas eu preciso de escrever isto, nem que seja para lavar a alma, só mais uma
vez. Eu não sei se podia ter sido muito mais até aqui, mas eu sei que fui tudo
o que quis ser.
Não reclamarei de nada hoje,
porque estes foram os melhores anos que eu podia ter tido. Muita persistência
conjugada com uma porção de sorte, as pessoas certas e as pessoas erradas na
hora exacta, hora exacta de aprender.Talvez eu não precisasse de ver tanta
coisa nem de aguentar tanto, para tirar estas lições da vida, mas foi este o método
de ensino que ela me deu. Na maior parte das vezes… resultou.
Acredito que tudo acontece com um
propósito. As pessoas na estrada, as pedras, as quedas, os sonhos que
ficaram por cumprir, as lições,
os gestos que nos enchem o coração e até as mágoas que nos provocam são o
preenchimento da história. São o pintar de uma tela em branco.
No final, o mais importante nesta caminhada vão ser as
gargalhadas que deste, a felicidade que partilhaste, o bem que fizeste e o que
te fizeram. Nisto eu fui abençoada com seres grandiosos. Eu queira ou não e apesar de todas as minhas manias de independência, tem
existido sempre uma mão para me ajudar, alguém para me ouvir, alguém para me
compreender. Dos pais aos irmãos. Da família à família que eu escolhi. A todos
eles um obrigado por existirem.
Estou aqui para dizer
que tenho orgulho em mim, na mulher que me tornei. Gosto de me ser. Assim um
pouco só, meio alheada do comum, meio estranha. Com esta essência radical cada
vez mais forte e nem por isso perdendo o amor e sobretudo a esperança no amor. Desengane-se
quem acha que quando eu falo em amor falo em romantismo, quando eu digo
esperança no amor é mesma coisa que estar dizer esperança no respeito das
pessoas umas pelas outras. É respeito que falta. "Amor", as
pessoas têm para dar e vender. (Eu sabia que não ia conseguir escrever o texto sem mandar uma boca!)
Então se tem de ser,
vamos lá fazer 27 anos. Agora estou pronta. Pronta para essas novas lutas,
pronta para continuar a aprender todos os dias, para provavelmente entristecer
momentaneamente mais 300 vezes, mas também para viver esta serenidade que
aprendeu a morar em mim, nestes últimos anos.
Bem-vinda fase adulta.
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