terça-feira, 19 de agosto de 2014

Pausa para a prosa poética - Eu só me perdi a mim


Fiquei sem inspiração, quando o perdi. Não sei se posso perder algo que nunca foi meu. Na realidade eu não perdi o amor dele, porque nunca o tive.
Perdi o meu amor. Perdi o olhar secreto.
Não perdemos alguém na ausência, não perdemos pela saudade. Não perdemos alguém quando o amor dessa pessoa por nós acaba ou não começa ou não é suficiente. Perdemos alguém quando deixamos de ter alvo para depositar o nosso afecto.
Fiquei sem inspiração, quando a música deixou de tocar. Não sei se posso deixar de ouvir uma música que nunca tocou. Na realidade, eu e ele nunca ouvimos a mesma canção.
Eu inventei a letra.
Às vezes, nós queremos tanto alguma coisa que acreditamos numa mentira, só porque ela encaixa na perfeição na história que queremos contar.
Fiquei sem inspiração, quando me perdi. Não tinha noção que me podia encontrar. Eu encontrei-me no amor que tinha e lhe dava.
Eu não tenho mais para quem dar.
Todos os outros parecem aos meus olhos, peças de puzzle que não encaixam. Não há espaço nesses homens, para depositar amor, não um amor com este.
Fiquei sem inspiração, quando falhei. Eu falhei, embora ainda não saiba exactamente onde. Talvez tenha falhado quando abri aquela porta pela primeira vez.
Eu não tenho mais portas.
Não há mais casa, em mim. O tempo levou-me as raízes, a vontade de ficar aqui. Levou-me para longe, para o terreno que eu não conheço.
Fiquei sem inspiração, quando resisti. Reagi a um amor de faz de conta. Que amor era esse? Amor que não acreditava; nunca lutou, nunca demonstrou.
Eu não o perdi..
Eu só me perdi a mim.



 

 

 

  

 

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