Tenho 25 anos, moro
sozinha num sótão algures no meio de Lisboa, tenho uma vista privilegiada sobre
esta cidade. Devia ter um gato, o Jaime, não tenho porque decidimos que a nossa
relação é melhor de 15 em 15 dias, quando nos encontramos em casa dos meus
pais.
O percurso até aqui não
foi árduo, mas também não foi fácil. Envolveu capacidades que eu desconhecia que
tinha, capacidade para lutar, para acreditar, para me empenhar com todas as
forças, e envolveu muita aprendizagem, aprendi a gostar da solidão, a combater
saudades, aprendi a ser totalmente dependente de mim.
Mas há coisas que nunca
mudam, ou pelo menos até agora não mudaram, continuo a ser profundamente inocente
em relação às verdadeiras razões que levam alguém, a aproximar-se de mim.
Nisso continuo a ser a miúda
que come gelados na pastelaria Pic-Nic, a miúda de 16 anos que espera a Filipa do
outro lado da estrada, para não sair sozinha de casa, a miúda que brinca com o
irmão ou a miúda que sente que ao colo da Mãe nada lhe fará mal.
Hoje em dia, não deixo
muita gente aproximar-se e mexer na minha vida, sou cautelosa, mas mesmo assim
alguns daqueles que eu permito que entrem, só tem vindo a destruir o meu mundo.
É como se existe um campo
de girassóis, que alguém desastroso e sem noção, se dedica a pisar, arrancar,
estragar. As pessoas deviam ter mais cuidado umas com as outras.
Nós, não temos noção de
que por vezes certas atitudes e palavras podem matar o campo de girassóis do
outro. Podem causar um reboliço na vida de outra pessoa, sem a mínima necessidade.
As palavras que saem da
nossa boca têm que ser muito pensadas. Não dá para dizer, eu estou aqui para te
ajudar, e saltar fora ao primeiro obstáculo, não dá para dizer que gostamos de
alguém, quando não o sentimos assim como não dá para dizer eu não gosto de ti
assim, algumas pessoas não têm como mudar.
Há pessoas que se
aproveitam das fragilidades dos outros para chegar aos seus fins e existem
outras que criam ilusões para não contar verdades.
No final isto dá um
problema gigante na vida daqueles que acreditaram. Dá feridas que nem sempre
cicatrizam.
A verdade arde, mas passa.
A ilusão dói e nem sempre se esquece.
Devíamos tentar ser mais
verdadeiros uns com os outros, falar mais entre nós, sem dramas tornado a vida
mais leve.
Eu nem sempre sou gentil, nem
sempre pergunto a todos, como estão, não dou beijinhos e não ando sempre a
dizer gosto muito de ti. Mas quem conta comigo, conta mesmo.
Para quem eu amo, eu nunca
falho. Nunca minto só para ficar bonito, não iludo, não utilizo, não levo recado
para casa e não abandono.
Se alguém algum dia me
ouvir dizer, conta comigo porque eu estou contigo, saiam da frente, porque eu
vou com ela até ao fim do mundo. Prejudico-me, meto-me, rebento-me mas nunca a
deixo.
É importante cuidar das
pessoas, ter cuidado para não lhes partir o coração.
E há tantas pessoas que
nem sabem o que isto é…
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