Não gosto de escrever
sobre actualidade, notícias, tragédia nem morte. Não sei porquê, escrevo sobre
tanta coisa triste, mas nunca me dá para isso. Talvez porque sinta que não
tenho autoridade para mexer nas dores dos outros, costumo agitar, expor,
denunciar dores, mas só as minhas.
Hoje, li um texto de um Blog
chamado “Pés no sofá”, sobre a tragédia no Meco. Na minha opinião muito bem escrito,
como aliás as restantes publicações. Mas não concordo com a opinião do autor.
Custa-me falar disto,
porque não sou mãe, e não posso sequer imaginar a dor que aqueles pais sentem.
A dor incalculável da perda, a saudade imensa, a dúvida do que realmente
aconteceu naquela noite. Embora nada traga estes jovens de volta, acho que estes
pais têm todo o direito de apurar a realidade, de julgar quem quer que seja, de
apertar com a Comissão de Praxes, para tentarem de algum modo, aliviar a dor
com a verdade.
Mas nós não, nós que não
estamos a passar por estas dores imensas, não podemos pôr tudo no mesmo saco. Muito
menos sem provas. Não sou contra a praxe, acho que até um certo ponto e
respeitando as liberdades individuais são benéficas. Já fui caloira, já fui
veterana, certo que em uma universidade com uma praxe soft, mas sei do que
falo. A praxe é importante para o jovem que acaba de chegar a um mundo que não
conhece, a praxe deve servir para dar a conhecer a esse jovem, novas pessoas. A
praxe não serve para pôr ninguém em perigo, nem para ofender, nem para
humilhar.
Quando a praxe passa essas
barreiras, passa também os muros das universidades, é importante que as
autoridades dêem atenção a casos extremos de abuso do ser humano. De qualquer
das formas, o responsável máximo pela nossa integridade física e moral, somos
nós mesmos. Ninguém faz nada obrigado, e o direito a dizer não, deve fazer
parte das praxes. E faz.
A comissão de praxes, não
passa de uns estudantes normalmente divertidos e com a mania que mandam mais
que outros, porque têm mais matrículas. Mas na realidade não passam disso, e se
abusarem devem ter o mesmo tratamento que se dá a qualquer pessoa que abuse ou
nos perturbe.
Quanto ao que se passou no
Meco, eu não sei. Sei apenas que o que se passou foi uma irresponsabilidade da
parte de todos, um erro fatal de jovens, não tão jovens assim que podiam e
deviam ter medido as consequências. Se o sobrevivente, o Dux de praxes tem
culpa? Eu acho que ele tem que abrir a boca e falar tudo o que sabe, mas não
acho que ele seja culpado. De certeza absoluta que ele não arrastou sozinho,
seis pessoas para a praia.
Acredito que isto preocupe
qualquer pai, e o facto de saber que há pessoas que cometem as maiores loucuras
só para fazer parte de alguma coisa, também me preocupa. Espero que estes
exemplos, infelizmente tão tristes, levem os jovens a pensar um pouco mais,
aqueles que são responsáveis pela praxe, devem ter limites e saber até onde
podem ir, os jovens que vão entrar para a universidade, não podem ceder a tudo
o que é pedido. Devem explicar que gostavam de fazer parte da praxe, mas não da
maneira estupida que é exigida. Sem medos, sem pressões.. A praxe, e que me
perdoe a tradição, o traje, Coimbra e afins, não passa de uma brincadeira e é
apenas assim que deve ser encarada por todos. Dizer que não, não tem problema
nenhum. Não fazer, não ir, e quem não gostar, temos pena!
Não sei se o que se passou
ali era uma espécie de ritual de admissão, mas também se é, a Comissão de
Praxes da Lusófona, deve rever bem os seus conceitos, é que não se percebe! Vão
beber copos e deixem-se de merdas!
Cabe na cabeça de alguém ir
para a praia do Meco de noite e no Inverno? Caderninhos com características das
pessoas? E se fossem para as aulas tirar apontamentos? Andam os pais a gastar
dinheiro, que às vezes nem têm, para os filhos andarem a analisar pessoas e a
criar normas de entrada na comissão. Ganhem juízo, isto aqui fora é uma selva,
não aproveitem aí, que cá fora já vão ter gente suficiente a pôr entraves, a
julgar, a atribuir nomes e características.
A morte é a coisa mais
certa que temos, podemos morrer ao atravessar a rua. Mas colocar a vida em risco
por coisas tão pequenas, a mim não me entra na cabeça. É o medo que protege o
ser humano, não tem mal nenhum ter medo, se não o tivéssemos, vivíamos metade
do tempo.
Fica a opinião de alguém que
nunca foi por ali, só porque eles dizem que é por ali. Que nunca fez nada na
sua vida de estudante contrariada, para agradar ou para ser mais aceite.
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