Nascemos e crescemos num meio
pequeno, rodeado de pessoas queridas e em quais confiamos cegamente.
Entretanto e demasiado depressa
nos tornamos adultos, e a nossa terra, o nosso canto no mundo, não nos dá oportunidades.
Como se vivêssemos num país sem nome, sem dó, sem vida.
A necessidade de sobreviver ou
simplesmente viver num nível médio, obriga-nos a partir. Deixar, tudo o que
sempre conhecemos como nosso, deixar os nossos, aquelas pessoas mágicas e insubstituíveis.
Obriga-nos a aprender a gostar de
um novo lugar, a criar novas rotinas, a conhecer outras pessoas, obriga-nos a
enganar a saudade.
Quando vim estudar para Lisboa, o
objectivo nunca foi ficar por cá, o objectivo continua a não ser. Lisboa, não
foi uma paixão á primeira vista, foi um amor cultivado, obrigado, aprendido.
Sete anos depois, com um trabalho
estável, novas amizades feitas, muitos momentos fantásticos, ao final do dia,
ainda abro a porta de casa e sinto falta da minha mãe na cozinha a fazer o
jantar, do meu pai a acender a lareira ou da gargalhada única que o meu irmão
tem. Ainda sinto falta de beber café no mesmo sítio, todos os dias, e ver as
mesmas caras familiares todos os dias.
Sete anos depois quando
mensalmente, apanho o comboio em Santa Apolónia, para voltar às raízes, ainda
me sinto regressada da guerra. Como se estivesse emigrada cá dentro.
Quando se chega de novo à nossa
terra, o cheiro é familiar, os passos na estrada sempre iguais, a casa é de
novo nossa, e nem precisamos da luz acesa, para chegar onde queremos. Os olhos
das pessoas são os mesmos confiáveis e seus sorrisos levantam-nos a coragem,
que inevitavelmente nos levará a partir, de novo.
Gosto muito de viajar, não há
nada melhor. Mas eu gosto tanto de ir, porque sei que vou regressar. Sempre disse
que um dia emigrava, hoje essa porta está fechada, e ainda bem. Admiro os meus
amigos que o fizerem e cheios de coragem, por lá se mantêm. Não imagino a
saudade deles, ninguém pode imaginar.
Estou a uma hora e quarenta minutos de casa, e
provavelmente, não faço a mínima ideia do que é sentir o peso da distância. Mas
sinto.
A esses corajosos jovens que
daqui saíram, em busca do que o seu país não lhe soube dar, que fizeram malas
em lagrimas, que apanharam aviões sem regresso previsto, que aprenderam uma nova
língua e uma nova maneira de viver. A esses que combatem todos os dias a
saudade e anseiam o dia de voltar, que passam dias e noites a pôr em causa a distância
e o que os faz ficar, os meus mais sinceros louvores.
Não duvido que todos os nossos
emigrantes cheguem a uma altura, uma hora, um momento ou um dia, que trocariam
toda a qualidade de vida e a conta bancária, pelo colo da mãe, pelo cheiro dos cedros
na entrada da casa, pelos sorrisos dos amigos, pela vida simples do que é
nosso.
Talvez a minha altura tenha
chegado…hoje eu não quero perder nem mais um segundo do envelhecer sempre tão rápido
dos meus pais, nem mais segundo da vida nova e colorida do meu puto, nem mais
um segundo das peripécias dos meus amigos, não quero perder nem mais um minuto
do acordar no meio do campo e receber os três bons-dias mais importantes da
minha vida.
Termino por aqui ,termino aqui este texto, com uma música que diz tanto, sobre o que nós sentimos.
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