segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Pausa para a crónica - Duas de mim

- Já pensaste que nunca existiu?

Essa peça de teatro decadente, com actores medíocres e poucos aplausos, era a tua estúpida imaginação, só a tua estúpida mania de achar que as pessoas não podem ser assim tão más! 

Não, elas podem. Podem ser piores do que tudo o que imaginas. Mil vezes mais sujas, baixas e ordinárias do que alguma vez, te vai passar pela cabeça.

São pessoas filhas da puta, sem princípios, sem valores ou remorsos de quem passa por cima de qualquer coisa para chegar onde quer ou ao que precisa.

As pessoas podem ser assim. Eu não te disse vezes sem conta? Eu não te avisei? Como pudeste ser tão burra, tão ingénua e tão burra!

- Eu fiz sempre o melhor que sabia. Amei quando e quanto pude, dei o que achei que podia dar. 

As escolhas dos outros não me pertencem. A merda que essas pessoas são, também não é uma preocupação minha. Não tirava uma virgula da história, voltava a conta-la tal e qual assim.

Não posso envergonhar-me de ter dado boa parte de mim, a melhor parte. Não posso culpar-me de acreditar nas mentiras convincentes de quem não presta.

A vida é isto e sabes que mais? Eu quero que ele seja feliz. Ele devia tentar ser… sem mais guerras, mentiras ou ilusões.

A felicidade é certamente outra coisa.

- Continuarás sempre a ser essa parva romântica que a vida engana. Dá-me vontade de desistir de ti. Tu não aprendes, não tens sede de vingança, de provocar dor nos outros como os outros te causam a ti?

Como é possível não te revoltares uma vez que seja?

- Isso seria perder mais tempo. Não tenho obrigação de acertar sempre, não posso mudar pessoas, não posso viver na angústia de me ter enganado.

Tento, tentarei até me findar, tentarei até o encontrar.

- E até lá? Vais levar mais quantas chapadas?

- Até lá.. sou feliz. Feliz por não me deixar corromper pela fraqueza de um ser, pela pura maldade, pelo mau carácter.

Feliz, apenas por não ser igual a ele. Apenas feliz por ter matado esse monstro, dentro de mim.

E é tudo.






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