terça-feira, 7 de outubro de 2014

Pausa para a crónica - Nos jardins que guardo cá dentro


Nem sempre somos capazes de transmitir certeza nas nossas escolhas, nem sempre a vida que temos, é a que gostávamos de ter.

Um dia acordo, e percebo, que sou um nada, um muito pouco na vida dos que me rodeiam, sou pouco e sou nada.

Não sou perfeita, como alguém um dia imaginou, não sou assim tão eficaz, nem tenho tantas qualidades, quantas, alguém um dia, me fez acreditar que tinha.

Sou carne e osso como qualquer um de vocês. Também sou orgulho, sou maldade, também sou inútil e nem sempre presto.

Nunca pedi mais do que o permitido, e quase sempre, até esse pouco, é negado.

Foge-me á compreensão, exalta-me a ignorância, perde-se a minha esperança, morrem os meus sonhos, sobrevive esta angústia.

Viver para surpreender não é assim tão fácil, e viver sem tomar atitudes e sem errar não é aprender.

Nos jardins que tenho cá dentro, ainda voam esses pássaros, ainda existe verde, ainda existe vida. Num mundo secreto, que ninguém pode entrar, para com o prazer normal do ser humano, danificar.

Aqui entro eu, quando o mundo cá fora anuncia a tempestade, quando as folhas caem, ou quando quase nada bate certo. Aqui fico eu… só para sentir que ainda consigo respirar.

Num mundo escuro e frio, onde cada vez mais os interesses são fugas perfeitas, para esquecer que existem sentimentos, num mundo que de mágico tem pouco, numa vida de desassossegos.

Nos jardins que tenho cá dentro. Sou livre e posso ser a mudança que gostava de ver neste mundo exterior onde sobrevivo. Sou mais do que imaginam, sou menos do que julgam, sou isenta de opiniões, julgamentos e futilidades.

Eu aqui sou sonho, nos jardins que guardo cá dentro, não existe muro de lamentações, nem dor, não existe juiz nem ditador.

Eu aqui obedeço apenas às regras que fiz a mim própria, não me assusto, nem grito! Falo baixinho, para ninguém escutar, a alegria que é viver num mundo sujo, e ter espaço, para criar um lugar mais dentro, um lugar mais puro, ou apenas um pequeno refúgio.

Talvez a única coisa que tenho, que ninguém quer mudar, moldar ou entrar. Talvez o único sítio onde ninguém há-de chegar, e ninguém pode destruir nem pisar. Nos jardins que guardo cá dentro… sou mais feliz...

 

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