sábado, 22 de fevereiro de 2014

Pausa para a crónica - Longe de casa

Nascemos e crescemos num meio pequeno, rodeado de pessoas queridas e em quais confiamos cegamente.

Entretanto e demasiado depressa nos tornamos adultos, e a nossa terra, o nosso canto no mundo, não nos dá oportunidades. Como se vivêssemos num país sem nome, sem dó, sem vida.

A necessidade de sobreviver ou simplesmente viver num nível médio, obriga-nos a partir. Deixar, tudo o que sempre conhecemos como nosso, deixar os nossos, aquelas pessoas mágicas e insubstituíveis.

Obriga-nos a aprender a gostar de um novo lugar, a criar novas rotinas, a conhecer outras pessoas, obriga-nos a enganar a saudade.

Quando vim estudar para Lisboa, o objectivo nunca foi ficar por cá, o objectivo continua a não ser. Lisboa, não foi uma paixão á primeira vista, foi um amor cultivado, obrigado, aprendido.

Sete anos depois, com um trabalho estável, novas amizades feitas, muitos momentos fantásticos, ao final do dia, ainda abro a porta de casa e sinto falta da minha mãe na cozinha a fazer o jantar, do meu pai a acender a lareira ou da gargalhada única que o meu irmão tem. Ainda sinto falta de beber café no mesmo sítio, todos os dias, e ver as mesmas caras familiares todos os dias.

Sete anos depois quando mensalmente, apanho o comboio em Santa Apolónia, para voltar às raízes, ainda me sinto regressada da guerra. Como se estivesse emigrada cá dentro.

Quando se chega de novo à nossa terra, o cheiro é familiar, os passos na estrada sempre iguais, a casa é de novo nossa, e nem precisamos da luz acesa, para chegar onde queremos. Os olhos das pessoas são os mesmos confiáveis e seus sorrisos levantam-nos a coragem, que inevitavelmente nos levará a partir, de novo.

Gosto muito de viajar, não há nada melhor. Mas eu gosto tanto de ir, porque sei que vou regressar. Sempre disse que um dia emigrava, hoje essa porta está fechada, e ainda bem. Admiro os meus amigos que o fizerem e cheios de coragem, por lá se mantêm. Não imagino a saudade deles, ninguém pode imaginar.

Estou a uma hora e quarenta minutos de casa, e provavelmente, não faço a mínima ideia do que é sentir o peso da distância. Mas sinto.

A esses corajosos jovens que daqui saíram, em busca do que o seu país não lhe soube dar, que fizeram malas em lagrimas, que apanharam aviões sem regresso previsto, que aprenderam uma nova língua e uma nova maneira de viver. A esses que combatem todos os dias a saudade e anseiam o dia de voltar, que passam dias e noites a pôr em causa a distância e o que os faz ficar, os meus mais sinceros louvores.

Não duvido que todos os nossos emigrantes cheguem a uma altura, uma hora, um momento ou um dia, que trocariam toda a qualidade de vida e a conta bancária, pelo colo da mãe, pelo cheiro dos cedros na entrada da casa, pelos sorrisos dos amigos, pela vida simples do que é nosso.

Talvez a minha altura tenha chegado…hoje eu não quero perder nem mais um segundo do envelhecer sempre tão rápido dos meus pais, nem mais segundo da vida nova e colorida do meu puto, nem mais um segundo das peripécias dos meus amigos, não quero perder nem mais um minuto do acordar no meio do campo e receber os três bons-dias mais importantes da minha vida.

Termino por aqui ,termino aqui este texto, com uma música que diz tanto, sobre o que nós sentimos.




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